segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A FUMAÇA DA CARABINA

“Um passeio pela Balaiada do século XIX – 170 anos de início da revolta popular”
http://bastopoetaemilitante.blogspot.com.br/2016/12/a-fumaca-da-carabina-um-passeio-pela.html
       Eles rondavam o sertão a procura da terra, grandiosas faram suas batalhas e ideologias em defesa de um mundo melhor. Corajosos, saíram da Vila de Manga rumo ao Baixo Parnaíba, eram os vaqueiros rebeldes. Adentraram chapada a fora atravessando vilarejos, escondendo-se dos legalistas e formando o povo. Talvez tirasse da selva sua alimentação, suas famílias ficavam sob a proteção de guerreiros.
       Os heróis eram aqueles vaqueiros, quilombolas, caboclos, camponeses pobres, índios e artesãos que sob a coragem de lutar por um ideal desafiaram o poder provincial do país. Mas existem mentiras em algumas páginas da história, porque quem a escreveu às vezes foi quem torturou os mais fracos. Os papeis mostram que a insurreição começara em 13 de dezembro de 1838. Sabe-se que a população do sertão maranhense já vinha sofrendo e se revoltando muito antes do fato de Vila da Manga; houve na verdade várias balaiadas; muitas revoltas contra as atrocidades dos fazendeiros, latifundiários, escravocratas que herdaram a estrutura fundiária no interior do estado. O que foi a Balaiada? Uma “insurreição”, “rebelião”, “revolução”, “sublevação”, “guerra civil”, “movimento revolucionário”, “revolta” ...? Tudo isso ela foi. Foi na verdade a insatisfação do povo humilde, dos analfabetos, das camadas mais pobres e miseráveis do interior, atores que fizeram o movimento. A Balaiada foi uma guerrilha camponesa, um levante que durou quatro anos de lutas entre nossos irmão e as forças militares do império, indo de 1838 a 1842. Alguns tentaram tirar proveitos dos corajosos rebeldes -, os “bem-te-vis”, que acovardaram-se e no auge da radicalização da revolta caíram fora. Nossos heróis cravaram seus nomes no imaginário popular, como o povo poderia esquecer de tamanho feito em busca da liberdade e pela igualdade de direitos. Um salve aos nossos líderes incansáveis que sonharam um dia, entre esses vultos o Raimundo Gomes, o Balaio, o Negro Cosme e todos os outros que tombaram.
       O sangue que regou o chão das chapadas do sertão do leste maranhense ainda hoje clama por justiça nos esconderijos e mocambos. Tentaram apagar os feitos que os verdadeiros heróis deixaram, o legado de sonhos e esperança. O movimento teve como espaço o nosso sertão, as veredas por onde ouve muitos combates marcaram as embocaduras do litoral, as imediações do rio Parnaíba, do Itapecuru e do Munim, adentraram região do Baixo Parnaíba afora penetrando nos atuais municípios de Barreirinhas, Tutóia, Araioses, Brejo, São Bernardo, Buriti, Milagres do Maranhão, Chapadinha, Urbano Santos, Vargem Grande, Nina Rodrigues, Icatu e Umberto de Campos. Muitas pelejas, vestígios ainda restam em valas e boqueirões. Os rios estão lá para contar o que passou.
       Guerreiros balaios de ontem e de hoje, os tempos se foram, as lutas continuam as mesmas. Os problemas de desumanidade, de desacatos aos direitos humanos, de impactos ambientais que atinge os camponeses e camponesas são os mesmos ou até piores do que os daquela época. O chão é o mesmo, as comunidades também. As armas se transformaram, outras continuam sendo os bacamartes e granadeiros de sempre. Aqueles heróis foram os pioneiros que num grito de dor utilizaram da força do braço e do pensamento para construir suas bandeiras em busca de respeito e dignidade. Esse capítulo importante está gravado no panteão dos mártires e na “fumaça da carabina” que se perpetuou nos ventos da história.
 (http://bastopoetaemilitante.blogspot.com.br/2016/12/a-fumaca-da-carabina-um-passeio-pela.html)

José Antonio Basto

Sextilhas à Balaiada

I
No ano mil e oitocentos
E trinta e oito corria
No sertão do Maranhão
A história se recria
A revolta dos balaios
Naquele tempo surgia.

II
Vaqueiros, negros e índios...
Caboclos de lealdade
Até mesmo aristocratas
Lutaram contra a maldade
Gerando uma grande guerra
Em busca de liberdade.

III
Começou em Vila da Manga
Com Raimundo o grande vaqueiro
Depois entraram na luta
Outros valentes guerreiros
Don Bento Cosme das Chagas
E o Balaio desordeiro.

IV
Manoel Francisco dos Anjos
Deu nome a revolução
Por ser fabricante de balaios
Recebeu essa missão
Dando nome aos revoltosos
Todos estes seus irmãos.

V
Atacaram muitas vilas
Os rebeldes corajosos
Em muitos dias de batalhas
Foram então vantajosos
Tomaram a cidade de Caxias
Deixando os praças nervosos.



VI
Entraram em Chapadinha,
Em Brejo e Itapecurú,
Em Tutóia e Miritiba,
Em Morros e Icatú
Até mesmo em São Luís...
São Bernardo e Anapurus.

VII
Quatro anos de peleja
Viveram os rebelados
Incomodaram o governo
Com tiros pra todo lado
E pelo Barão de Caxias
Por fim foram conquistados.

VIII
Com o fim do movimento
Alguns dos refugiados
Em busca de segurança
Vieram pra esses lados
Nas margens do Rio Mocambo
Então ficaram implantados.

IX
Daí nasceu uma vila
Hoje nossa Urbano Santos!
Onde sangue de valentes
Por todos esses recantos
É honrado na memória
Celebrado nesses “cantos”.

X
Assim foi a Balaiada
A maior insurreição
De pessoas que lutaram
Pela valorização
Num tempo muito difícil
No estado do Maranhão.


José Antonio Basto –, Setembro – 2017

HISTÓRIA DA COMUNIDADE BOA UNIÃO, URBANO SANTOS, BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE

Comunidade Boa União
A comunidade Boa União remonta a história do final do século XIX na Região do Baixo Parnaíba Maranhense, período conhecido como o "ciclo das fazendas".
Seus moradores mais antigos contam fatos interessantes como foi formado o primeiro povoamento e os trabalhos nos engenhos de cana-de-açúcar para a fabricação de cachaça e rapadura. Na Boa União tem uma peça histórica (canhão de pelouros), vestígios da Balaiada 1838-1842. O canhão em baixo das mangueiras é a prova viva de um ato que por ventura tenha sido planejado para sufocar o movimento rebelde, uma vez que já no final do movimento, o Negro Cosme andava recrutando escravos naquelas redondezas, pois o mesmo já tinha invadido a Fazenda Catingueira entre Tutóia e Barreirinhas – num lugar chamado Priá. As linhas da geografia da Balaiada ligavam á cidade de Brejo que se tornara quartel general da insurreição, terra do Balaio Francisco Manoel dos Anjos, até pouco tempo atrás toda essa nossa região pertencia à Comarca de Brejo.
As antigas peças do engenho, tachos de cobre, alicerces, muralhas e trincheiras do período são encontrados no local do pátio da fazenda sob as sombras das mangueiras centenárias. O povoado foi desenvolvido nas margens do Rio Preguiças pela atração das terras férteis e abundância de água para o desenvolvimento dos trabalhos. Ainda se pode ver o famoso sino da capela juntamente com vasos e outros utensílios domésticos pertencentes aos proprietários da casa-grande. A história de Boa União é importante para entendermos os conflitos e as relações sociais no interior do leste maranhense no final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, um capítulo importante de nossa história.
 
Texto e imagem: José Antonio Basto

VAQUEIRO DA LIBERDADE


Era o valente - Raimundo Gomes, o “Cara Preta”
Herói da Balaiada e do povo camponês
Com machado quebrara a cadeia da Manga,
Ultrapassando a porta para a liberdade desta vez.

Liderou artesãos, caboclos e escravos,
Pelas campinas e chapadas do sertão ardente
Sua carabina bate-bucha a tiracolo...
Sobre a sombra da coral pula a serpente!

O chiado da folha na floresta,
Avisa o legalista ao chegar!
O Balaio chegou! Confira a batucada -
Chegou a hora! A hora de lutar!

Viva o Cara Preta, herói do povo...
O panteon da história guarda suas verdades,
Nesta grande “Insurreição” de todos nós...
Salve o bravo vaqueiro da liberdade. 


José Antonio Basto
Em memória a figura emblemática  e corajosa do vaqueiro Raimundo Gomes, o Cara Preta – um grande líder da Insurreição dos Balaios - (Balaiada – 1838-1842).

CRIADA A LEI QUE INSTITUI A SEMANA DA BALAIADA NO ÂMBITO DO ESTADO DO MARANHÃO

 LEI Nº 12.227, DE 14 DE MARÇO DE 2024 ESTADO DO MARANHÃO ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO MARANHÃO INSTALADA EM 16 DE FEVEREIRO DE 1835 DI...